O Toco de Lápis - PEDRO BANDEIRA
Lá, num fundo de gaveta, dois lápis estavam
juntos.
Um era novo, bonito, com ponta muito bem feita. Mas o outro – coitadinho! – era
triste de se ver. Sua ponta era rombuda, dele só restava um toco, de tanto ser
apontado.
O grandão, novinho em folha, olhou para a triste figura do companheiro e
chamou:
– Ô, baixinho! Você, aí embaixo! Está me ouvindo?
– Não precisa gritar – respondeu o toco de lápis. – Eu não sou surdo!
– Não é surdo? Ah, ah, ah! Pensei que alguém já tivesse até cortado as suas
orelhas, de tanto apontar sua cabeça!
O toquinho de lápis suspirou:
– É mesmo... Até já perdi a conta de quantas vezes eu tive de enfrentar o
apontador...
O lápis novo continuou com a gozação:
– Como você está feio e acabado! Deve estar morrendo de inveja de ficar ao meu
lado. Veja como eu sou lindo, novinho em folha!
– Estou vendo, estou vendo... Mas, me diga uma coisa: Você sabe o que é uma
poesia?
– Poesia? Que negócio é esse?
– Sabe o que é uma carta de amor?
– Amor? Carta? Você ficou louco, toquinho de lápis?
– Fiquei tudo! Louco, alegre, triste, apaixonado! Velho e gasto também. Se
assim fiquei, foi porque muito vivi. Fiquei tudo aquilo que aprendi de tanto
escrever durante toda a vida. Romance, conto, poesia, narrativa, descrição,
composição, teatro, crônica, aventura, tudo! Ah, valeu a pena ter vivido tanto,
ter escrito tanta coisa, mesmo tendo de acabar assim, apenas um toco de lápis.
E você, lápis novinho em folha: o que é que você aprendeu?
O grandão, que era um lindo lápis preto, ficou vermelho de vergonha...
Nenhum comentário:
Postar um comentário