sábado, 6 de abril de 2013

O VELHO E A VIDA – PEDRO BLOCH



            A sala do Esportivo estava repleta. Aprecia até show de Chico Buarque. Tomaram parte na mesa o Dr. Galvão, dona Letícia, dona Luciana (a psicóloga do clube) e Paulinho, representando os alunos.
            O Dr. Galvão achou que era de seu dever anunciar o orador.
            -Senhores e senhoras. – Dentro do trabalho dos alunos, de levantamento dos problemas das pessoas mais maduras (quis evitar “velhos”), convidamos, hoje, o nosso amigo Sr. Cândido Vieira Cardoso, membro honrado de nossa comunidade, para dizer algumas palavras sobre a idade provecta. Tem a palavra o nosso convidado de hoje.
            Enquanto “seu” Candinho começava a suar frio, ao ir chegando à tribuna, Tio Lucas distribuía os sorrisos mais abertos e um abraço global, abrangente.
             E agora?
            “Seu” Candinho não sabia onde esconder seu olhar, onde guardar suas mãos e como começar, mas recordou, com esforço, as palavras do mestre Danilo:
            -Ninguém, meus amigos, quer ser velho, porque o velho, em nossa cultura, não é o que alcançou o topo da montanha, mas é forçado ao declínio, a uma descida, que é marcada, quase sempre, pelo calendário. O velho – para muitos – não é. Já era.
            Risos na plateia e ele continua:
            -Não é assim que dizem os moços? Velho, careta, pé-de-chinelo, já era? Mas eu diria que ele ainda é, quando lhe permitem ser.
            -Mas que acontece em certos países do Oriente? O velho é reverenciado , o velho é venerado, o velho é conselheiro, é equilíbrio, é bússola, é rumo. Há lugares no mundo em que a velhice é privilégio, é prêmio, é meta. mas até isso está desaparecendo. se dá Mais tempo de vida sem dar a vida do tempo.
            Alguns aplausos esparsos.
            Prossegue:
            -Muita gente imagina que a sabedoria decorre da inteligência. Não é verdade. A sabedoria decorre do haver vivenciado, experimentado, amadurecido. Os problemas decorrem do fato de muitos velhos não terem se defrontado com a verdade, não terem amadurecido devidamente, não terem alcançado sabedoria.(...)
            E concluiu:
            -Eu infelizmente, não estou entre os que amadureceram e chegaram à verdadeira sabedoria. Mas quero prestar a minha homenagem a alguém que a alcançou, que é uma eterna alegria de viver e que se prolongou no futuro: - quero que aplaudam o exemplo admirável de meu querido amigo Tio Lucas.
            As palmas que se seguiram foram tão vibrantes que o próprio Tio Lucas encabulou. Mas “seu” Candinho sentiu, como poucas vezes na vida, um coração aquecido, uma sensação boa de quem, ainda que temeroso, consegue olhar, não de frente e sempre – mas de vez em quando – o grande problema da vida. Cada momento é eternidade, cada segundo é infinito que se repete, cada ser humano repete a Humanidade inteira.
            Descobriu-se, depois, chorando baixinho. Há quanto tempo não conseguira aquilo, senhor Deus! Jamais havia percebido o bom que era poder chorar baixinho.
            As palmas continuavam. 

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