Quanto ao parto, eis o que presenciei.
Pernoitando com outro francês em uma aldeia,
certa ocasião, ouvimos, quase à meia noite, gritos de mulher, e pensamos que estivesse
sendo atacada pelo jaguar, essa fera
carniceira que já descrevi. Acudimos
imediatamente e verificamos que se
tratava apenas de uma mulher em horas de
parto. O pai recebeu a criança nos braços, depois de cortar com os dentes o cordão
umbilical e amarrá-lo. Em seguida,
continuando no seu ofício de parteira,
esmagou com o polegar o nariz do filho, como
é de praxe entre os selvagens do país. Note-se que as nossas parteiras, ao
contrário, apertam o nariz aos
recém-nascidos para dar maior beleza, afilando-o.
Apenas sai do ventre materno, é o menino
bem lavado e pintado de preto e vermelho
pelo pai, o qual, sem enfaixá-lo, deita-o em uma rede de algodão. Se é macho, dá-lhe logo
um pequenino tacape e um arco miúdo com
flechas curtas de penas de papagaio;
depois de colocar tudo isso junto ao
menino, beija-o risonho e diz:
“Meu filho, quando cresceres serás
destro nas armas, forte, valente e
belicoso, para te vingares dos teus inimigos.”
GANDAVO,
Pero de Magalhães, cronista histórico
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