quarta-feira, 10 de julho de 2013

ÍNDIO



Quanto ao parto, eis o que presenciei. Pernoitando com outro francês em uma aldeia,  certa ocasião, ouvimos, quase à meia noite, gritos  de mulher, e pensamos que estivesse sendo  atacada pelo jaguar, essa fera carniceira que já  descrevi. Acudimos imediatamente e verificamos  que se tratava apenas de uma mulher em horas  de parto. O pai recebeu a criança nos braços,  depois de cortar com os dentes o cordão umbilical  e amarrá-lo. Em seguida, continuando no seu ofício  de parteira, esmagou com o polegar o nariz do filho,  como é de praxe entre os selvagens do país. Note-se que as nossas parteiras, ao contrário, apertam  o nariz aos recém-nascidos para dar maior beleza,  afilando-o. Apenas sai do ventre materno, é o  menino bem lavado e pintado de preto e vermelho  pelo pai, o qual, sem enfaixá-lo, deita-o em uma  rede de algodão. Se é macho, dá-lhe logo um  pequenino tacape e um arco miúdo com flechas  curtas de penas de papagaio; depois de colocar  tudo isso junto ao menino, beija-o risonho e diz:
“Meu filho, quando cresceres serás destro nas  armas, forte, valente e belicoso, para te vingares  dos teus inimigos.”
GANDAVO, Pero de Magalhães, cronista histórico

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