Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Luís Vaz de Camões)
Na primeira estrofe, a ambivalência do amor está demonstrada na ardência do corpo e na transcendência da alma. A utilização de metáforas denuncia a contradição entre o amor físico: “fogo que arde”, “ferida que dói”, e o amor espiritual: “sem se ver” e “não se sente”. Nas três primeiras estrofes, o poeta esforça-se para conceituar a natureza do amor, que, para ele, é contraditório. Na última estrofe, ele chega a conclusão sobre os efeitos desse sentimento: como pode um sentimento tão contraditório levar conforto aos corações humanos?
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