A sala do Esportivo estava repleta.
Aprecia até show de Chico Buarque. Tomaram parte na mesa o Dr. Galvão, dona
Letícia, dona Luciana (a psicóloga do clube) e Paulinho, representando os
alunos.
O Dr. Galvão achou que era de seu
dever anunciar o orador.
-Senhores e senhoras. – Dentro do
trabalho dos alunos, de levantamento dos problemas das pessoas mais maduras
(quis evitar “velhos”), convidamos, hoje, o nosso amigo Sr. Cândido Vieira
Cardoso, membro honrado de nossa comunidade, para dizer algumas palavras sobre
a idade provecta. Tem a palavra o nosso convidado de hoje.
Enquanto “seu” Candinho começava a
suar frio, ao ir chegando à tribuna, Tio Lucas distribuía os sorrisos mais
abertos e um abraço global, abrangente.
E agora?
“Seu” Candinho não sabia onde
esconder seu olhar, onde guardar suas mãos e como começar, mas recordou, com
esforço, as palavras do mestre Danilo:
-Ninguém, meus amigos, quer ser
velho, porque o velho, em nossa cultura, não é o que alcançou o topo da
montanha, mas é forçado ao declínio, a uma descida, que é marcada, quase
sempre, pelo calendário. O velho – para muitos – não é. Já era.
Risos na plateia e ele continua:
-Não é assim que dizem os moços?
Velho, careta, pé-de-chinelo, já era? Mas eu diria que ele ainda é, quando lhe
permitem ser.
-Mas que acontece em certos países
do Oriente? O velho é reverenciado , o velho é venerado, o velho é conselheiro,
é equilíbrio, é bússola, é rumo. Há lugares no mundo em que a velhice é
privilégio, é prêmio, é meta. mas até isso está desaparecendo. se dá Mais tempo
de vida sem dar a vida do tempo.
Alguns aplausos esparsos.
Prossegue:
-Muita gente imagina que a sabedoria
decorre da inteligência. Não é verdade. A sabedoria decorre do haver
vivenciado, experimentado, amadurecido. Os problemas decorrem do fato de muitos
velhos não terem se defrontado com a verdade, não terem amadurecido
devidamente, não terem alcançado sabedoria.(...)
E concluiu:
-Eu infelizmente, não estou entre os
que amadureceram e chegaram à verdadeira sabedoria. Mas quero prestar a minha
homenagem a alguém que a alcançou, que é uma eterna alegria de viver e que se
prolongou no futuro: - quero que aplaudam o exemplo admirável de meu querido
amigo Tio Lucas.
As palmas que se seguiram foram tão
vibrantes que o próprio Tio Lucas encabulou. Mas “seu” Candinho sentiu, como
poucas vezes na vida, um coração aquecido, uma sensação boa de quem, ainda que
temeroso, consegue olhar, não de frente e sempre – mas de vez em quando – o
grande problema da vida. Cada momento é eternidade, cada segundo é infinito que
se repete, cada ser humano repete a Humanidade inteira.
Descobriu-se, depois, chorando baixinho.
Há quanto tempo não conseguira aquilo, senhor Deus! Jamais havia percebido o
bom que era poder chorar baixinho.
As palmas continuavam.
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